Descrição enviada pela equipe de projeto. O Monte Monjas, um dos Montes mais belos de Valparaíso, se destaca por estar localizado no centro de um anfiteatro natural da cidade e por possuir uma das encostas construídas mais inclinadas. Estas qualidades permitiram que o padrão de assentamento fosse dado por enormes muros de contenção que o transformaram em um monte habitável e apto a ser percorrido, apesar de sua topografia complexa. É por isso que o Cerro Monjas possui proximidades e uma altura considerável em relação ao centro da cidade, onde cada casa tem como principal valor sua localização e vistas panorâmicas privilegiadas.
Essa vertiginosa topografia apenas permitiu a construção de estreitas ruas e vielas que inevitavelmente deram forma à tramas urbanas compactas, compostas por lotes pequenos que forçaram a proximidade física de seus habitantes. Este último foi condicionado por outra das qualidades valiosas do Monte (conhecido como Cerro) que é a vida de bairro coesa e uma harmonia entre a honestidade das construções vernaculares e obras de alto valor arquitetônico, como o caso do elevador Monjas e uma série de imóveis repartidos pelo Cerro que têm mais de 80 anos. Por outro lado, as pequenas dimensões dos lotes dificultam a fusão destes, o que permitiu manter o Cerro intacto, livre da especulação imobiliária de grande escala e de super valorização do solo como aconteceu em outros setores da cidade.
É nesta complexa paisagem urbana na qual se insere a casa denominada 'Casa Monjas', a qual sem maiores pretensões é construída como um reflexo específico dos valores urbanos característicos do cerro.
LOCALIZAÇÃO. Conceitualmente, a casa é composta por duas tipologias volumétricas que definem sua implantação: uma que age como base, mais pétrea, que acentua a presença da gravidade, composta por suas muros de contenção e parte da planta superior, com a qual criamos horizontalidade em um terreno praticamente inexistente - dada sua forte inclinação. E outra mais aérea e leve, composta pelos interiores do primeiro e do segundo pavimento, a qual posa sobre o primeiro volume para articular o gesto inicial de implantação.
MATERIALIDADE. Para refletir esta condição, o volume de base é revestido em placas retangulares em fibro-cimento pigmentados de cinza escuro, enquanto que o corpo mais aéreo é coberto com placas onduladas de zinco, posicionadas horizontalmente, sem pintura para enfatizar a cor metálica do material.
PENDENTE. Enquanto o corpo basal compacto, estático e isotrópico, que não chama muita atenção, é o encarregado de 'trair' as encostas das quais o projeto esteve exposto. Assim, em direção à Rua Valenzuela Puelma, a horizontalidade do revestimento mostra o quanto a rua desce, e pela lateral, na fachada oeste, este revestimento constrói apenas uma reta inclinada, que evidencia sem deixar dúvidas quanto à verticalidade do terreno.
FORMA. Diferentemente do anterior, o volume mais leve que descansa sobre a base forma um 'L', sobressaindo em ambos os lados com um balanço que acentua sua leveza. Por regulamentos municipais, a casa deve manter a linha contínua que recua 3 metros das construções existentes na paisagem, distância esta que afeta a lateral maior do L. Enquanto o terreno baixa abruptamente, este plano se estende de maneira horizontal em todo o comprimento da fachada leste para conformar uma quilha de metal que atinge a altura máxima da casa e permite criar uma varanda interna para a cidade e, finalmente, para o porto. Abaixo, no nível da rua é aproveitado o distanciamento para localizar a garagem. A parte menor do L, localizado na parte superior do terreno articula entre as perpendicularidades um terraço mirante, que separa ao mesmo tempo que vincula visualmente a sala de jantar e a de estar.